terça-feira, 31 de agosto de 2010

domingo, 29 de agosto de 2010

às vezes uma flor





e essas folhagens da página aberta sobre
o domingo sem vistas ou tatos de móveis
o que eu desejava tinha a ver com as
moradas e seus quartos como a possível
ornamentação do que os livros escondem
ao canto as jibóias que resistem a todo
escuro o cobre derrama o seu veneno
ao longo dos cabelos e a canção foi
suspensa pelo sono pela areia esfriada
e do ninho violado restaram o tecido
arrancado da roupa de cama e pequenas
peças de vidro em mosaico, verde e lilás
como vestígios de um copo em que pousávamos
às vezes uma flor.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Aprendi a viver com simplicidade, com juízo,
a olhar o céu, a fazer minhas orações,
a passear sozinha até a noite,
até ter esgotado esta angústia inútil.

Enquanto no penhasco murmuram as bardanas
e declina o alaranjado cacho da sorveira,
componho versos bem alegres
sobre a vida caduca, caduca e belíssima.
Volto para casa. Vem lamber a minha mão
o gato peludo, que ronrona docemente,
e um fogo resplandecente brilha
no topo da serraria, à beira do lago.
Só de vez em quando o silêncio é interrompido
pelo grito da cegonha pousando no telhado.
Se vieres bater à minha porta,
é bem possível que eu sequer te ouça.

Anna Akhmátova
(tradução de Lauro Machado Coelho)

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

domingo, 15 de agosto de 2010

aparição

Difícil é saber de frente a tua morte
E não te esperar nunca mais nos espelhos da bruma.

Sophia de Mello Breyner.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

escrevi esse poema aos dezoito anos. achei hoje, dentro de um livro antigo.


olhei nos olhos
do córrego
quase imundo
e me vi soturna
aparentemente completa
mas ao norte
inteiramente
um cáctus -
cheia de líquido por dentro.

14 de abril de 1998.