sábado, 28 de dezembro de 2013
Despedida
Cecília Meireles
Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces ? - me perguntarão. -
Por não Ter palavras, por não ter imagem.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras ?
Tudo.
Que desejas ?
Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação ...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão !
Estandarte triste de uma estranha guerra ... )
Quero solidão.
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
Marechal Hermes
encerra a perseguição de uma cena
este dia por dentro de um ônibus
naquela esquina altiva do viaduto
o segredo inteiro do que eu amava.
uma cela por saber aquela prontidão
no centro do bairro a caminho do vácuo
a estação inteira que ardia a óleo e
casamentos. a espera sempre tardava
aos mercados e aos apelos que o bairro
tinha de perigo. um fantasma ia comigo
sentado ao banco lateral do coletivo
sobre um aterro de restos que o dia
finalmente ejetava. eu estava lá.
encerra a perseguição de uma cena
este dia por dentro de um ônibus
naquela esquina altiva do viaduto
o segredo inteiro do que eu amava.
uma cela por saber aquela prontidão
no centro do bairro a caminho do vácuo
a estação inteira que ardia a óleo e
casamentos. a espera sempre tardava
aos mercados e aos apelos que o bairro
tinha de perigo. um fantasma ia comigo
sentado ao banco lateral do coletivo
sobre um aterro de restos que o dia
finalmente ejetava. eu estava lá.
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
a máquina de fazer a dor
a tarde pareceu normal a caminho do vale, na ciência
de que um portal, às vezes, destrói-se com um guindaste,
não sei. já me são familiares os relevos, a língua
passando pelo dente arrancado, as bromélias que
se penduram do alto. natural que eu ouça demais
as coisas que o corpo fala. não poderia te dizer
o que é. mas não é nada de diferente. só o piso branco
a casa no cio dos gatos e o cais inteiro da minha
infância em cinco ou seis fotos para as quais olho
entre um intervalo e outro da televisão dispersa e muda.
sábado, 14 de setembro de 2013
Canto dos insetos
http://www.youtube.com/watch?v=PmJ66y0mrzk
Wado (de "Vazio Tropical")
Bebe o café, muda de nome.
Deixa a casa e chora
Está no leite que ferve
Está no mel do seu nome
Deixa a casa e chora
Você já ouviu um inseto cantar?
Ouviu estórias de amor
De ninar?
Eu acho que vem, não vem
Vou deixar você viver em paz
Sozinha
Mas quem sabe onde cabe
O amor onde faz
Você já ouviu um inseto cantar
Ouviu estórias de amor
De ninar outra vez
É sua a sua demora
Não quero você nem ninguem
Se não for agora
Deixa o mar varrer
Deixa cictrizar meu nome
Se você vier
Vamos recomeçar por onde?
Deixa estar como esta
Este é o nosso lugar
Mesmo quando não há um onde
Deixa o mar varrer
Deixa cictrizar meu nome
Se você vier
Vamos recomeçar por onde?
Deixa estar como esta
Este é o nosso lugar
Mesmo quando não há um onde
Deixa o mar varrer
Deixa cictrizar meu nome
Wado (de "Vazio Tropical")
Bebe o café, muda de nome.
Deixa a casa e chora
Está no leite que ferve
Está no mel do seu nome
Deixa a casa e chora
Você já ouviu um inseto cantar?
Ouviu estórias de amor
De ninar?
Eu acho que vem, não vem
Vou deixar você viver em paz
Sozinha
Mas quem sabe onde cabe
O amor onde faz
Você já ouviu um inseto cantar
Ouviu estórias de amor
De ninar outra vez
É sua a sua demora
Não quero você nem ninguem
Se não for agora
Deixa o mar varrer
Deixa cictrizar meu nome
Se você vier
Vamos recomeçar por onde?
Deixa estar como esta
Este é o nosso lugar
Mesmo quando não há um onde
Deixa o mar varrer
Deixa cictrizar meu nome
Se você vier
Vamos recomeçar por onde?
Deixa estar como esta
Este é o nosso lugar
Mesmo quando não há um onde
Deixa o mar varrer
Deixa cictrizar meu nome
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
sexta-feira, 2 de agosto de 2013
Flume
Bon Iver
I am my mother's only one
It's enough
I wear my garment so it shows
Now you know
Only love is all maroon
Gluey feathers on a flume
Sky is womb and she's the moon
I am my mother on the wall
With us all
I move in water, shore to shore
Nothing's more
Only love is all maroon
Lapping lakes like leery loons
Leaving rope burns, reddish ruse
Only love is all maroon
Gluey feathers on a flume
Sky is womb and she's the moon
Pode ser ouvida aqui: http://www.youtube.com/watch?v=62i9Sodwp5o
Bon Iver
I am my mother's only one
It's enough
I wear my garment so it shows
Now you know
Only love is all maroon
Gluey feathers on a flume
Sky is womb and she's the moon
I am my mother on the wall
With us all
I move in water, shore to shore
Nothing's more
Only love is all maroon
Lapping lakes like leery loons
Leaving rope burns, reddish ruse
Only love is all maroon
Gluey feathers on a flume
Sky is womb and she's the moon
Pode ser ouvida aqui: http://www.youtube.com/watch?v=62i9Sodwp5o
quarta-feira, 31 de julho de 2013
Divórcio
Monica Costa Netto
Demora na serpente do adeus
uma saudade constrita do que não foi
céu
coberto por folhas
o rastejante recordar se agita
com sua fome comprida
varrendo o chão da alma
esquece
o sopro desconhecido
entre as palmeiras de dendê
não grita como as jandaias
morre calado nos coquinhos
no parque sem cobras
a corda enroscada no pescoço do dia
dificulta o trabalho do carrasco
com o machado
castigo
o corpo-árvore se desloca acéfalo
corre
esperando descobrir
no vento que lhe corta a face
o espírito do encontro
sem lugar
passa
promessa errante
dos tempos em que partem
viajantes anfíbios
os peixes-pássaros da existência
para colonizar sonhos futuros
do que nunca seremos
sim
Monica Costa Netto
Demora na serpente do adeus
uma saudade constrita do que não foi
céu
coberto por folhas
o rastejante recordar se agita
com sua fome comprida
varrendo o chão da alma
esquece
o sopro desconhecido
entre as palmeiras de dendê
não grita como as jandaias
morre calado nos coquinhos
no parque sem cobras
a corda enroscada no pescoço do dia
dificulta o trabalho do carrasco
com o machado
castigo
o corpo-árvore se desloca acéfalo
corre
esperando descobrir
no vento que lhe corta a face
o espírito do encontro
sem lugar
passa
promessa errante
dos tempos em que partem
viajantes anfíbios
os peixes-pássaros da existência
para colonizar sonhos futuros
do que nunca seremos
sim
terça-feira, 4 de junho de 2013
as réstias
nada tem sido o que me dá o dia.
só o nascimento curto das helicônias
é chamado certo para os pássaros.
a habitação de cimento transborda
um cenário esvaziado de aceites e
a economia dos azulejos garante a
construção de um poço dentro da casa.
(a casa é sempre palavra que sobra)
as laranjas silenciam os gomos abertos:
não há insetos que resistam aos odores
do que principia, lento, a se apagar.
quinta-feira, 2 de maio de 2013
A Du Fu, da aldeia de Shaqiu
Enfim, por que
estou aqui?
Vivo retirado
na aldeia de Shaqiu.
Ao pé das muralhas,
apenas árvores seculares.
Nelas, dia e noite,
a voz do outono.
O vinho de Lu
não chega
a me deixar bêbado
e os cantos comoventes de Qi
não tocam mais
meu coração.
Minhas saudades
são como as correntes
do rio Wen,
apressadas, sem descanso,
rumo ao sul.
Li Bai
Enfim, por que
estou aqui?
Vivo retirado
na aldeia de Shaqiu.
Ao pé das muralhas,
apenas árvores seculares.
Nelas, dia e noite,
a voz do outono.
O vinho de Lu
não chega
a me deixar bêbado
e os cantos comoventes de Qi
não tocam mais
meu coração.
Minhas saudades
são como as correntes
do rio Wen,
apressadas, sem descanso,
rumo ao sul.
Li Bai
sábado, 20 de abril de 2013
A noite não adormece nos olhos das mulheres
Conceição Evaristo
A noite não adormece
nos olhos das mulheres
a lua fêmea, semelhante nossa,
em vigília atenta vigia
a nossa memória.
A noite não adormece
nos olhos das mulheres
há mais olhos que sono
onde lágrimas suspensas
virgulam o lapso de nossas molhadas lembranças.
A noite não adormece
nos olhos das mulheres
vaginas abertas
retêm e expulsam a vida
donde Ainás, Nzingas, Ngambeles
e outras meninas luas
afastam delas e de nós
os nossos cálices de lágrimas.
A noite não adormecerá
jamais nos olhos das fêmeas
pois do nosso sangue-mulher
do nosso líquido lembradiço
em cada gota que jorra
um fio invisível e tônico
pacientemente cose a rede
de nossa milenar resistência.
Conceição Evaristo
A noite não adormece
nos olhos das mulheres
a lua fêmea, semelhante nossa,
em vigília atenta vigia
a nossa memória.
A noite não adormece
nos olhos das mulheres
há mais olhos que sono
onde lágrimas suspensas
virgulam o lapso de nossas molhadas lembranças.
A noite não adormece
nos olhos das mulheres
vaginas abertas
retêm e expulsam a vida
donde Ainás, Nzingas, Ngambeles
e outras meninas luas
afastam delas e de nós
os nossos cálices de lágrimas.
A noite não adormecerá
jamais nos olhos das fêmeas
pois do nosso sangue-mulher
do nosso líquido lembradiço
em cada gota que jorra
um fio invisível e tônico
pacientemente cose a rede
de nossa milenar resistência.
sábado, 13 de abril de 2013
quarta-feira, 20 de março de 2013
domingo, 17 de março de 2013
sábado, 16 de março de 2013
Meditação do dia 12/5/85
Encontrei-me diante desse silêncio inarticulado um pouco
como a madeira alguns em momentos semelhantes
pensaram decifrar o espírito em alguma remanência para
eles isso foi uma consolação ou redobro do horror não para mim.
Havia sangue espesso sob tua pele em tua mão
derramado na ponta dos dedos para mim não era humano.
Essa imagem se apresenta pela milésima vez novamente
com a mesma violência ela não pode não se repetir
indefinidamente uma nova geração de minhas células se
houver tempo encontrará essa duplicação onerosa essas
tiragens fotográficas internas não tenho escolha agora.
Nada no preto me influencia.
Não me exercito a nenhuma comparação não avanço
nenhuma hipótese afundo-me pelas unhas.
Sou em tempos míope não podem dizer-me
olha esse gramado lá dez anos antes vá em sua direção.
O olhar humano tem o poder de dar valor aos seres isso
os torna mais caros.
Jacques Roubaud. Algo: preto.
como a madeira alguns em momentos semelhantes
pensaram decifrar o espírito em alguma remanência para
eles isso foi uma consolação ou redobro do horror não para mim.
Havia sangue espesso sob tua pele em tua mão
derramado na ponta dos dedos para mim não era humano.
Essa imagem se apresenta pela milésima vez novamente
com a mesma violência ela não pode não se repetir
indefinidamente uma nova geração de minhas células se
houver tempo encontrará essa duplicação onerosa essas
tiragens fotográficas internas não tenho escolha agora.
Nada no preto me influencia.
Não me exercito a nenhuma comparação não avanço
nenhuma hipótese afundo-me pelas unhas.
Sou em tempos míope não podem dizer-me
olha esse gramado lá dez anos antes vá em sua direção.
O olhar humano tem o poder de dar valor aos seres isso
os torna mais caros.
Jacques Roubaud. Algo: preto.
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
Retrato com sombra
Que morte é a sombra deste retrato,
onde eu assisto ao dobrar dos dias,
órfão de ti e de uma aventura suspensa?
Tu não eras só este perfil.
Tu não eras só este sossego aconchegado
nas mãos como num regaço.
Tu não eras apenas
este horizonte de areia com árvores distantes.
Falta aqui tudo o que amámos juntos,
o teu sorriso com as ruas dentro,
o secreto rumor das tuas veias
abrindo sulcos de palavras fundas
no rosto da noite inesperada.
Falta sobretudo à roda dos teus olhos
a pura ressonância da alegria.
Lembro-me de uma noite em que ficámos nus
para embalar um beijo ou uma lágrima,
lutando, de cortadas, até romper o dia,
largo, intacto,
nas pálpebras molhadas dos lírios.
Tu não eras ainda este perfil
com uma rosa de cinza na mão direita.
Eu andava dentro de ti
como um pequeno rio de sol
dentro da semente,
porque nós – é preciso dizê-lo –
tínhamos nascido um dentro do outro
naquela noite.
Esse é o teu rosto verdadeiro;
aquele rosto que vou juntando ao teu retrato
como quando era pequeno:
recortando aqui,
colando ali,
até que uma fonte rasgue a tua boca
e a noite fique transbordante de água.
Eugénio de Andrade in: "As palavras interditas".
onde eu assisto ao dobrar dos dias,
órfão de ti e de uma aventura suspensa?
Tu não eras só este perfil.
Tu não eras só este sossego aconchegado
nas mãos como num regaço.
Tu não eras apenas
este horizonte de areia com árvores distantes.
Falta aqui tudo o que amámos juntos,
o teu sorriso com as ruas dentro,
o secreto rumor das tuas veias
abrindo sulcos de palavras fundas
no rosto da noite inesperada.
Falta sobretudo à roda dos teus olhos
a pura ressonância da alegria.
Lembro-me de uma noite em que ficámos nus
para embalar um beijo ou uma lágrima,
lutando, de cortadas, até romper o dia,
largo, intacto,
nas pálpebras molhadas dos lírios.
Tu não eras ainda este perfil
com uma rosa de cinza na mão direita.
Eu andava dentro de ti
como um pequeno rio de sol
dentro da semente,
porque nós – é preciso dizê-lo –
tínhamos nascido um dentro do outro
naquela noite.
Esse é o teu rosto verdadeiro;
aquele rosto que vou juntando ao teu retrato
como quando era pequeno:
recortando aqui,
colando ali,
até que uma fonte rasgue a tua boca
e a noite fique transbordante de água.
Eugénio de Andrade in: "As palavras interditas".
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
sábado, 26 de janeiro de 2013
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
zona norte
não era adeus era
uma forma mais bruta
de se cansar da vida
não era perder porque
perdido muito já se sentia
tampouco era verão no
que seguia o curso de uma
avenida
éramos só nós duas selando
um arremesso como se eu só
pedisse clemência e abrisse
o sinal para outra curva.
não foi distância. foi um
corpo abaixo da sombra,
entre o suor temperado de
carne e a direção que não
pude indicar ao motorista
quando tomei aquele táxi
e te deixei ali para que
voasses para o retorno em que
exatamente te perdi.
tantas vezes fui à igreja matriz
para pedir dinheiro, vagas e depois
a tua ida. na escadaria da penha
os degraus são calçados pelo peso
de quem carrega velas, dores e fitas
e nessa sorte sempre te levei comigo.
foram anos de longo subir. não sei
como se volta ao cimo duma pedra
depois que se sai da espera. lembro
apenas do nascimento de uma montanha
dessa imagem de paciência e calor no
seu núcleo.
os pés dos peregrinos são um retrato
exato do que pedem: sobre ti nunca
ultrapassei a nave dos mortos. e o
que inventei mesmo foi uma passagem
sem guia. algo como o que o orixás
e os santos levam nas mãos: um espelho
uma adaga uma rosa
por vezes uma chave sem rituais
ou aquilo que atravessa o corpo
depois da lança.
as fotografias de meses atrás acovardam
uma lápide sobre nós.
e na volta estavam lá
os calçados azuis
ao lado da cama
como se você estivesse sempre
para chegar.
uma forma mais bruta
de se cansar da vida
não era perder porque
perdido muito já se sentia
tampouco era verão no
que seguia o curso de uma
avenida
éramos só nós duas selando
um arremesso como se eu só
pedisse clemência e abrisse
o sinal para outra curva.
não foi distância. foi um
corpo abaixo da sombra,
entre o suor temperado de
carne e a direção que não
pude indicar ao motorista
quando tomei aquele táxi
e te deixei ali para que
voasses para o retorno em que
exatamente te perdi.
tantas vezes fui à igreja matriz
para pedir dinheiro, vagas e depois
a tua ida. na escadaria da penha
os degraus são calçados pelo peso
de quem carrega velas, dores e fitas
e nessa sorte sempre te levei comigo.
foram anos de longo subir. não sei
como se volta ao cimo duma pedra
depois que se sai da espera. lembro
apenas do nascimento de uma montanha
dessa imagem de paciência e calor no
seu núcleo.
os pés dos peregrinos são um retrato
exato do que pedem: sobre ti nunca
ultrapassei a nave dos mortos. e o
que inventei mesmo foi uma passagem
sem guia. algo como o que o orixás
e os santos levam nas mãos: um espelho
uma adaga uma rosa
por vezes uma chave sem rituais
ou aquilo que atravessa o corpo
depois da lança.
as fotografias de meses atrás acovardam
uma lápide sobre nós.
e na volta estavam lá
os calçados azuis
ao lado da cama
como se você estivesse sempre
para chegar.
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Diria que sim, conheço,
o que me parte em dois,
as faces da chuva,
os olhos da água,
traiçoeiramente.
Diria que sim,
e riria deste dia,
de errar a hora,
(...)
Diria que tudo é pó,
poesia de longe,
dessas que se esquece,
livro raro, antigo,
no banco do táxi.
E diria que sim,
que iria com você,
sem saber da volta,
sem amor, revolta,
sem passagem.
Simples como se nota
na ponta do lápis
uma ínfima parte
do branco da folha.
Kátia Borges, "Port Arthur, Texas 3".
o que me parte em dois,
as faces da chuva,
os olhos da água,
traiçoeiramente.
Diria que sim,
e riria deste dia,
de errar a hora,
(...)
Diria que tudo é pó,
poesia de longe,
dessas que se esquece,
livro raro, antigo,
no banco do táxi.
E diria que sim,
que iria com você,
sem saber da volta,
sem amor, revolta,
sem passagem.
Simples como se nota
na ponta do lápis
uma ínfima parte
do branco da folha.
Kátia Borges, "Port Arthur, Texas 3".
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
down by the river
she could drag me
over the rainbow,
send me away
http://www.youtube.com/watch?v=cOxbGEXM89g
over the rainbow,
send me away
http://www.youtube.com/watch?v=cOxbGEXM89g
Horas e horas conversamos inconscientemente em português
como se fora esta a única língua do mundo.
Antes de depois da fé eu pergunto cadê os meus que se foram,
porque sou humana, com capricho tampo o restinho de molho na panela.
Saberemos viver uma vida melhor que esta,
quando mesmo chorando é tão bom estarmos juntos?
Sofrer não é em língua nenhuma.
Sofri e sofro em Minas Gerais e na beira do oceano.
Estarreço de estar viva. Ó luar do sertão,
ó matas que não preciso ver pra me perder,
ó cidades grandes, estados do Brasil que amo como se os tivesse inventado.
(...)
Tudo junto é inteligível demais e eu não suporto.
Valha-me noite que me cobre de sono.
O pensamento da morte não se acostuma comigo.
Estremecerei de susto até dormir.
E no entanto é tudo tão pequeno.
Para o desejo do meu coração
o mar é uma gota.
Adélia Prado, "Desenredo".
como se fora esta a única língua do mundo.
Antes de depois da fé eu pergunto cadê os meus que se foram,
porque sou humana, com capricho tampo o restinho de molho na panela.
Saberemos viver uma vida melhor que esta,
quando mesmo chorando é tão bom estarmos juntos?
Sofrer não é em língua nenhuma.
Sofri e sofro em Minas Gerais e na beira do oceano.
Estarreço de estar viva. Ó luar do sertão,
ó matas que não preciso ver pra me perder,
ó cidades grandes, estados do Brasil que amo como se os tivesse inventado.
(...)
Tudo junto é inteligível demais e eu não suporto.
Valha-me noite que me cobre de sono.
O pensamento da morte não se acostuma comigo.
Estremecerei de susto até dormir.
E no entanto é tudo tão pequeno.
Para o desejo do meu coração
o mar é uma gota.
Adélia Prado, "Desenredo".
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