terça-feira, 29 de janeiro de 2013
sábado, 26 de janeiro de 2013
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
zona norte
não era adeus era
uma forma mais bruta
de se cansar da vida
não era perder porque
perdido muito já se sentia
tampouco era verão no
que seguia o curso de uma
avenida
éramos só nós duas selando
um arremesso como se eu só
pedisse clemência e abrisse
o sinal para outra curva.
não foi distância. foi um
corpo abaixo da sombra,
entre o suor temperado de
carne e a direção que não
pude indicar ao motorista
quando tomei aquele táxi
e te deixei ali para que
voasses para o retorno em que
exatamente te perdi.
tantas vezes fui à igreja matriz
para pedir dinheiro, vagas e depois
a tua ida. na escadaria da penha
os degraus são calçados pelo peso
de quem carrega velas, dores e fitas
e nessa sorte sempre te levei comigo.
foram anos de longo subir. não sei
como se volta ao cimo duma pedra
depois que se sai da espera. lembro
apenas do nascimento de uma montanha
dessa imagem de paciência e calor no
seu núcleo.
os pés dos peregrinos são um retrato
exato do que pedem: sobre ti nunca
ultrapassei a nave dos mortos. e o
que inventei mesmo foi uma passagem
sem guia. algo como o que o orixás
e os santos levam nas mãos: um espelho
uma adaga uma rosa
por vezes uma chave sem rituais
ou aquilo que atravessa o corpo
depois da lança.
as fotografias de meses atrás acovardam
uma lápide sobre nós.
e na volta estavam lá
os calçados azuis
ao lado da cama
como se você estivesse sempre
para chegar.
uma forma mais bruta
de se cansar da vida
não era perder porque
perdido muito já se sentia
tampouco era verão no
que seguia o curso de uma
avenida
éramos só nós duas selando
um arremesso como se eu só
pedisse clemência e abrisse
o sinal para outra curva.
não foi distância. foi um
corpo abaixo da sombra,
entre o suor temperado de
carne e a direção que não
pude indicar ao motorista
quando tomei aquele táxi
e te deixei ali para que
voasses para o retorno em que
exatamente te perdi.
tantas vezes fui à igreja matriz
para pedir dinheiro, vagas e depois
a tua ida. na escadaria da penha
os degraus são calçados pelo peso
de quem carrega velas, dores e fitas
e nessa sorte sempre te levei comigo.
foram anos de longo subir. não sei
como se volta ao cimo duma pedra
depois que se sai da espera. lembro
apenas do nascimento de uma montanha
dessa imagem de paciência e calor no
seu núcleo.
os pés dos peregrinos são um retrato
exato do que pedem: sobre ti nunca
ultrapassei a nave dos mortos. e o
que inventei mesmo foi uma passagem
sem guia. algo como o que o orixás
e os santos levam nas mãos: um espelho
uma adaga uma rosa
por vezes uma chave sem rituais
ou aquilo que atravessa o corpo
depois da lança.
as fotografias de meses atrás acovardam
uma lápide sobre nós.
e na volta estavam lá
os calçados azuis
ao lado da cama
como se você estivesse sempre
para chegar.
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Diria que sim, conheço,
o que me parte em dois,
as faces da chuva,
os olhos da água,
traiçoeiramente.
Diria que sim,
e riria deste dia,
de errar a hora,
(...)
Diria que tudo é pó,
poesia de longe,
dessas que se esquece,
livro raro, antigo,
no banco do táxi.
E diria que sim,
que iria com você,
sem saber da volta,
sem amor, revolta,
sem passagem.
Simples como se nota
na ponta do lápis
uma ínfima parte
do branco da folha.
Kátia Borges, "Port Arthur, Texas 3".
o que me parte em dois,
as faces da chuva,
os olhos da água,
traiçoeiramente.
Diria que sim,
e riria deste dia,
de errar a hora,
(...)
Diria que tudo é pó,
poesia de longe,
dessas que se esquece,
livro raro, antigo,
no banco do táxi.
E diria que sim,
que iria com você,
sem saber da volta,
sem amor, revolta,
sem passagem.
Simples como se nota
na ponta do lápis
uma ínfima parte
do branco da folha.
Kátia Borges, "Port Arthur, Texas 3".
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
down by the river
she could drag me
over the rainbow,
send me away
http://www.youtube.com/watch?v=cOxbGEXM89g
over the rainbow,
send me away
http://www.youtube.com/watch?v=cOxbGEXM89g
Horas e horas conversamos inconscientemente em português
como se fora esta a única língua do mundo.
Antes de depois da fé eu pergunto cadê os meus que se foram,
porque sou humana, com capricho tampo o restinho de molho na panela.
Saberemos viver uma vida melhor que esta,
quando mesmo chorando é tão bom estarmos juntos?
Sofrer não é em língua nenhuma.
Sofri e sofro em Minas Gerais e na beira do oceano.
Estarreço de estar viva. Ó luar do sertão,
ó matas que não preciso ver pra me perder,
ó cidades grandes, estados do Brasil que amo como se os tivesse inventado.
(...)
Tudo junto é inteligível demais e eu não suporto.
Valha-me noite que me cobre de sono.
O pensamento da morte não se acostuma comigo.
Estremecerei de susto até dormir.
E no entanto é tudo tão pequeno.
Para o desejo do meu coração
o mar é uma gota.
Adélia Prado, "Desenredo".
como se fora esta a única língua do mundo.
Antes de depois da fé eu pergunto cadê os meus que se foram,
porque sou humana, com capricho tampo o restinho de molho na panela.
Saberemos viver uma vida melhor que esta,
quando mesmo chorando é tão bom estarmos juntos?
Sofrer não é em língua nenhuma.
Sofri e sofro em Minas Gerais e na beira do oceano.
Estarreço de estar viva. Ó luar do sertão,
ó matas que não preciso ver pra me perder,
ó cidades grandes, estados do Brasil que amo como se os tivesse inventado.
(...)
Tudo junto é inteligível demais e eu não suporto.
Valha-me noite que me cobre de sono.
O pensamento da morte não se acostuma comigo.
Estremecerei de susto até dormir.
E no entanto é tudo tão pequeno.
Para o desejo do meu coração
o mar é uma gota.
Adélia Prado, "Desenredo".
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