Há muito alguns chamavam de amigas
aquelas que se amavam na espera da
noite, escuro a dentro ou a madrugada.
É também assim que te conheço,
Mariana, não somente como nome ou mãos
fechadas; em ti foi possível um
pouso longo de asas, marco alfa em
nome de uma mulher funda em corpo
de paisagem muito alta. Da tua pele,
Mariana, eu nunca esqueci o açoite e
é por isso que em ti agora existo e
me encontrava; como além
de órfãs eu reconhecia a tramitação
de uma tristeza certa que não dizia
respeito apenas ao teu continente
mas sobretudo ao que houvera sido
perdido ou nunca possível, porque
a medicina do amor nos desenganara.
E permanecemos um pouco adoentadas
no princípio de pouco verbo, a meio-amor
interdito e planos precoces fadados ao
pavor do que uma História de falas legava
tiranicamente ao corpo impossível porque
em nossas próprias mãos nós não estávamos.
De repente, Mariana, um dia acordei depois
de muito duvidar e te encontrei ressonando
real, mais bela que todas as outras humanas
criaturas e pressenti que uma chave me havia
sido dada, para poder entrar e encontrar repouso
dentro de uma lua no interior da casa, farta,
larga e genuína como a astúcia dos carneiros.
A tua lealdade ao fogo e à água que nos torna
prontas dá sentido ao teu porte ético de profunda
realeza, Mariana,
e também por isso há muito não és apenas amiga
mas noiva, rosa e alcaçuz
daí que o teu nome esteja inscrito na causa
amante porque teu é o terreno, Baobá precioso
raiz por onde alimento a terra que me falta.
Rio de Janeiro, 23 de março de 2010.
Hunf.
ResponderExcluir