Oiço falar da minha vocação
mendicante, e sorrio. Porque não sei
se tal vocação não é apenas
uma escolha entre riquezas, como Keats
diz ser a poesia.
Desci à rua pensando nisto,
atravessei o jardim, um cão
saltava à minha frente,
louco com as folhas do outono
que principiara, e doiravam
o chão. A música,
digamos assim, a que toda a alma aspira,
quando a alma
aspira a ter do mundo o melhor dele,
corria à minha frente, subia
por certo aos ouvidos de deus
com a ajuda de um cão,
que nem sequer me pertencia.
Eugénio de Andrade. O Sal da Língua (1995).
Fico rodando por aqui tentando entender o que fiz para te merecer mesmo que não tenha resposta para isso. Enquanto não percebe seu engano, aproveito a companhia, mesmo que à distância. Espero que faça bom uso de meus demoniozioninhos, não deixando de aplaudir meus super-heróis de verdade. (Eugénio de Andrade? Isso é coisa minha, mulher!)
ResponderExcluirpensei em dizer "é uma homenagem ao bernardo", já que me surpreendi com um eugénio por lá, mas ia parecer emotiva demais. e como isso é coisa que se esconde... enfim, entendes...
ResponderExcluirmas os demônios todos da acídia forma de falar estão todos na literatura portuguesa. deve ser por isso que a mim (a nós) toca tanto.