sexta-feira, 24 de julho de 2009

I

Posso estar aqui
eu posso estar aqui perfeitamente pobre
um círio me acendi espora aguda
o vento ritmo negro assassinou-o

posso estar aqui
- o musgo é lento com a sombra -
e sei de cor a voz cega das canções
(viola de silêncio acorda-me)

que eu posso estar aqui perfeitamente pedra
insone
e um longo segredo impessoal
bordando a minha solidão.


II


Em cada braço um herança de horizonte
desde o naufrágio de um eco
em cada árvore
trago-me no sol
à hora dos contornos
no sol a voz
é mais difícil
o tempo mais ausente

trago um filho
que parte o caule às estrelas
é louco e sofre
e parte o caule às estrelas

Tragicamente o sol
põe luz nos braços
A morte é uma feira aberta em lua.


Luiza Neto Jorge. "5 Poemas para a Noite Invariável".

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