domingo, 19 de dezembro de 2010
ilha adentro
a queda da paisagem não modifica
a mim e os meus degredos as minhas
costuras ou os acenos da tarde
encontra é essa engenharia a que
preenche as vigas com dinamite e
acende o longo morrer dos edifícios
estivemos assistindo muitas imagens
e delas sobressaem a rotura duma ilha
dela distante se avistava a terra
ou isto: não que se reconheça mais
a iluminação do dia conforme os
andares demonstravam as sombras
quedam os carros da ponte ao lado
no interstício da forja e não do aço
é a paisagem que cai do mundo vencida.
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Publico abaixo a generosa resenha que a professora e pesquisadora, além de silenciosa amiga, Evelyn Blaut fez do meu primeiro livro de poemas:
Recensão a réplica das urtigas, de Tatiana Pequeno. Oficina Raquel, 2009.
réplica das urtigas chama a atenção desde o título, pois que réplica tem pelo menos três sentidos, é resposta incisiva àquilo que é dito ou escrito, contestação, replicação, objeção; cópia ou imitação de uma obra de arte; ritornelo – sinal que indica repetição de determinado trecho de uma peça, em cantos ou versos, como nos madrigais italianos dos séculos XIV e XV, repetição de um verso no fim ou no início (como antecanto) de diversas estrofes ou ainda no corpo da mesma estrofe, criando uma espécie de rima ou base rítmica para o poema (Houaiss). Urtiga pertence à família das urticáceas, ervas que causam irritação à pele. Isto quer dizer, quase segundo a lição de Gilles Deleuze, replicar aquilo que parece menor, mas que é ainda pungente, comovente, lancinante. Sei, no entanto, das Iluminações já lidas e relidas por Tatiana e, por isso, ler Réplica das urtigas naturalmente me faz voltar a “As Réplicas de Nina”, de Arthur Rimbaud. Numa relação quase quiasmática, por alguma razão misteriosa, o título do poema de Rimbaud está no plural, um poema que faz as vezes de um diálogo teatral cuja réplica de Nina é a contestação, o verso final: “E o meu emprego?”. No entanto, a dica da recolha de Tatiana está ainda no início do discurso d’Ele:
Ele. – Vamos, meu peito contra o teu,
Bem juntos, hã!?,
Gozar o ar puro, o azul do céu
Desta manhã
De fresco sol que banha o dia
De vinho? ... e, por
Todo o bosque, que se inebria
Mudo de amor,
Ver cada galho que desperta,
Claros botões,
Sentindo, em cada coisa aberta,
Carne em tensões:
E atirarás para as urtigas
Teu penhoar,
Rosando o ar azul que abrigas
Em teu olhar,
(...)
O título do livro de estréia em poesia de Tatiana Pequeno vem no singular como se replicasse tão somente as urtigas. E, no entanto, replica e cita toda uma constituição familiar: “teu corpo, pai/ exumado na data dos meus anos” (p. 32); “enquanto meu pai, pedra de toque,/ toma sol sem aura no seu corpo de lítio” (p. 53); “quando o pai subiu ao monte para de lá cair/ magma e monstro” (p. 59); “reconheci no aspecto homogêneo da arnica/ a benfeitoria dos apaches, meus irmãos.” (p. 34); “Dois dos meus filhos estão/ suspensos através de/ um buquê de escorpiões” (p. 38); “usar o véu de nossa/ senhora das dores e saber como foi para ela/ ter vindo de tão longe para viver um poeta morrendo/ nas mãos furadas de cerzir a família” (p. 49). Há pelo menos três aparições do pai e são presenças órfãs, ausentes enquanto “(as mães aqui estão de passagem)” (p. 59). Enquanto imagino um “corpo de lítio”, vem-me à mente o “Lithium” do Nirvana. É uma genealogia poética de renda cravejada de peças preciosas e de balas, ou melhor, “com cravas nas linhas/ e sangue de bala escorrendo no bordado” (p. 49). A estirpe familiar forma um ciclo completo de vida e morte que vai dos “folículos na base” (p. 49) a “a morte era de novo arrumar os armários” (p. 63); da “ogiva do meu filho” (p. 78) a “os meus avós rezando e sem fé” (p. 49). E é também uma linhagem de réplicas que vai progressivamente de Maria Gabriela Llansol a Ian Curtis, Al Berto a Chan Marshall. E Orides Fontela. As referências literárias, musicais, pessoais são aqui cerzidas por Tatiana.
Há neste ciclo de vida e morte um elemento elementar, a água, que também adquire um viés no negativo, quer dizer, a água não é límpida, condição para transporte, mas torna uma força destrutiva. “Allegro diabolico” é título do poema e referência a um allegro de Béla Bartók, é dedicado “para os amigos com muitas coisas em água”, coisas astrológicas, psicológicas, afetivas e afetadas. O poema cresce segundo a ética do fundo mar e seus peixes, ostras, polvos e arraias; é um mundo subaquático com “neurologia aquática”, “sebes afogadas” e “metrô hidroviário”, um mundo a postos de ser engolido por uma onda e vivermos todos numa nova era, numa “comunidade tão sadia”, segundo o ritmo e o movimento das águas. Mas é que o poema fala de uma clínica e de uma “moça ansiolítica” a “dançar/ ao som da divisão da alegria”, a dançar o allegro e pode ser que toda a comunidade sadia possa ser “vista através do aquário de prata”. Mas, como disse, a água torna uma força destrutiva: “a água destruiria a Casa” e vivemos mesmo todos numa nova era movida por águas moventes de “uma experiência contínua de mar/ e merda na cachoeira de lama” (p. 50-51).
Gosto de “lullaby 6000” (também título de uma faixa de The Czars). Há uma imagem cíclica, não só genealógica ou da relação entre vida e morte, que são relações inerentes, como o “feixe do teleférico”, um transporte que permite a travessia, a mudança da paisagem. Entretanto, conforme a imagem do teleférico, penso no transporte circular que Bruno S. toma no final de Stroszek (Werner Herzog, 1977), filme a que Ian Curtis assistiu e em seguida suicidou-se. Neste filme, como em Também os anões começaram pequenos (Herzog, 1970) há uma imagem emblemática que é a de um carro posto em movimento, sem motorista, a desenhar um círculo. Stroszek entra num teleférico e contorna uma imagem regressiva de andar à volta de si mesmo, num eterno e perverso retorno. O poema “lullaby 6000” provoca a intenção de ser um texto de violência, “Não é verdade que o que me dás/ seja suave”, de tensão sexual que passa pelo “corpo”, pela “extensão”, pelo “falo”, pelo “trabalho de/ escavação”. E, logo a seguir, uma pergunta, quase ao molde do poema de Rimbaud, quase uma revisitação de “As réplicas de Nina”: “Lançarias comigo o feixe do teleférico?”. Eu diria que esta é uma pergunta litoral, quer dizer, é um chamado, um convite para entrar na roda e é também um pedido vigoroso para formar um círculo de vício. É esta voz perversa que espera “que estejas preparando o retorno para ti” (p. 72). E pode ser a mesma voz de um outro poema, como “engano”: “Dormias/ e nos intervalos/ mal sabias/ o meu nome” (p. 79) que parece mesclar a presença do amante indiferente e da mulher capaz de fazer de tudo para “simplesmente” “te fazer/ ficar por mais horas até que o pavor/ me dissipasse a água e enfim fôssemos/ iguais na condição da chuva e o teu/ marco no meu tronco fosse algo/ que nunca mais pudesses levar ou tomar/ de volta.” (p. 70). Este poema de tensão sexual traça uma tensão poética. Por isso, Litoral. E aqui peço licença para citar “Os sentidos do acidental” de Jorge Fernandes da Silveira, que confessa no prefácio a Réplica das urtigas gostar tanto deste Poema: “Gosto sobretudo deste modo de estar à beira do corpo do outro como se estivesse (sic) num litoral, lugar há muito confortável para o literário saber-se entre o literal e o metafórico” (p. 19-20). E confesso que gosto desta imagem limite, desta imagem litoral do “olímpico gesto de tatear as tuas/ costas de navio ao erro do exílio” (p. 70) neste livro em que, tensamente, “morte e vida/ irmana” .
Evelyn Blaut Fernandes
Rio, 18 de novembro de 2010.
JORGE, Luiza Neto. Poesia. Poesia. Organização e prefácio de Fernando Cabral Martins. 2. ed. Lisboa: Assírio e Alvim, 2001, p. 234.
Recensão a réplica das urtigas, de Tatiana Pequeno. Oficina Raquel, 2009.
réplica das urtigas chama a atenção desde o título, pois que réplica tem pelo menos três sentidos, é resposta incisiva àquilo que é dito ou escrito, contestação, replicação, objeção; cópia ou imitação de uma obra de arte; ritornelo – sinal que indica repetição de determinado trecho de uma peça, em cantos ou versos, como nos madrigais italianos dos séculos XIV e XV, repetição de um verso no fim ou no início (como antecanto) de diversas estrofes ou ainda no corpo da mesma estrofe, criando uma espécie de rima ou base rítmica para o poema (Houaiss). Urtiga pertence à família das urticáceas, ervas que causam irritação à pele. Isto quer dizer, quase segundo a lição de Gilles Deleuze, replicar aquilo que parece menor, mas que é ainda pungente, comovente, lancinante. Sei, no entanto, das Iluminações já lidas e relidas por Tatiana e, por isso, ler Réplica das urtigas naturalmente me faz voltar a “As Réplicas de Nina”, de Arthur Rimbaud. Numa relação quase quiasmática, por alguma razão misteriosa, o título do poema de Rimbaud está no plural, um poema que faz as vezes de um diálogo teatral cuja réplica de Nina é a contestação, o verso final: “E o meu emprego?”. No entanto, a dica da recolha de Tatiana está ainda no início do discurso d’Ele:
Ele. – Vamos, meu peito contra o teu,
Bem juntos, hã!?,
Gozar o ar puro, o azul do céu
Desta manhã
De fresco sol que banha o dia
De vinho? ... e, por
Todo o bosque, que se inebria
Mudo de amor,
Ver cada galho que desperta,
Claros botões,
Sentindo, em cada coisa aberta,
Carne em tensões:
E atirarás para as urtigas
Teu penhoar,
Rosando o ar azul que abrigas
Em teu olhar,
(...)
O título do livro de estréia em poesia de Tatiana Pequeno vem no singular como se replicasse tão somente as urtigas. E, no entanto, replica e cita toda uma constituição familiar: “teu corpo, pai/ exumado na data dos meus anos” (p. 32); “enquanto meu pai, pedra de toque,/ toma sol sem aura no seu corpo de lítio” (p. 53); “quando o pai subiu ao monte para de lá cair/ magma e monstro” (p. 59); “reconheci no aspecto homogêneo da arnica/ a benfeitoria dos apaches, meus irmãos.” (p. 34); “Dois dos meus filhos estão/ suspensos através de/ um buquê de escorpiões” (p. 38); “usar o véu de nossa/ senhora das dores e saber como foi para ela/ ter vindo de tão longe para viver um poeta morrendo/ nas mãos furadas de cerzir a família” (p. 49). Há pelo menos três aparições do pai e são presenças órfãs, ausentes enquanto “(as mães aqui estão de passagem)” (p. 59). Enquanto imagino um “corpo de lítio”, vem-me à mente o “Lithium” do Nirvana. É uma genealogia poética de renda cravejada de peças preciosas e de balas, ou melhor, “com cravas nas linhas/ e sangue de bala escorrendo no bordado” (p. 49). A estirpe familiar forma um ciclo completo de vida e morte que vai dos “folículos na base” (p. 49) a “a morte era de novo arrumar os armários” (p. 63); da “ogiva do meu filho” (p. 78) a “os meus avós rezando e sem fé” (p. 49). E é também uma linhagem de réplicas que vai progressivamente de Maria Gabriela Llansol a Ian Curtis, Al Berto a Chan Marshall. E Orides Fontela. As referências literárias, musicais, pessoais são aqui cerzidas por Tatiana.
Há neste ciclo de vida e morte um elemento elementar, a água, que também adquire um viés no negativo, quer dizer, a água não é límpida, condição para transporte, mas torna uma força destrutiva. “Allegro diabolico” é título do poema e referência a um allegro de Béla Bartók, é dedicado “para os amigos com muitas coisas em água”, coisas astrológicas, psicológicas, afetivas e afetadas. O poema cresce segundo a ética do fundo mar e seus peixes, ostras, polvos e arraias; é um mundo subaquático com “neurologia aquática”, “sebes afogadas” e “metrô hidroviário”, um mundo a postos de ser engolido por uma onda e vivermos todos numa nova era, numa “comunidade tão sadia”, segundo o ritmo e o movimento das águas. Mas é que o poema fala de uma clínica e de uma “moça ansiolítica” a “dançar/ ao som da divisão da alegria”, a dançar o allegro e pode ser que toda a comunidade sadia possa ser “vista através do aquário de prata”. Mas, como disse, a água torna uma força destrutiva: “a água destruiria a Casa” e vivemos mesmo todos numa nova era movida por águas moventes de “uma experiência contínua de mar/ e merda na cachoeira de lama” (p. 50-51).
Gosto de “lullaby 6000” (também título de uma faixa de The Czars). Há uma imagem cíclica, não só genealógica ou da relação entre vida e morte, que são relações inerentes, como o “feixe do teleférico”, um transporte que permite a travessia, a mudança da paisagem. Entretanto, conforme a imagem do teleférico, penso no transporte circular que Bruno S. toma no final de Stroszek (Werner Herzog, 1977), filme a que Ian Curtis assistiu e em seguida suicidou-se. Neste filme, como em Também os anões começaram pequenos (Herzog, 1970) há uma imagem emblemática que é a de um carro posto em movimento, sem motorista, a desenhar um círculo. Stroszek entra num teleférico e contorna uma imagem regressiva de andar à volta de si mesmo, num eterno e perverso retorno. O poema “lullaby 6000” provoca a intenção de ser um texto de violência, “Não é verdade que o que me dás/ seja suave”, de tensão sexual que passa pelo “corpo”, pela “extensão”, pelo “falo”, pelo “trabalho de/ escavação”. E, logo a seguir, uma pergunta, quase ao molde do poema de Rimbaud, quase uma revisitação de “As réplicas de Nina”: “Lançarias comigo o feixe do teleférico?”. Eu diria que esta é uma pergunta litoral, quer dizer, é um chamado, um convite para entrar na roda e é também um pedido vigoroso para formar um círculo de vício. É esta voz perversa que espera “que estejas preparando o retorno para ti” (p. 72). E pode ser a mesma voz de um outro poema, como “engano”: “Dormias/ e nos intervalos/ mal sabias/ o meu nome” (p. 79) que parece mesclar a presença do amante indiferente e da mulher capaz de fazer de tudo para “simplesmente” “te fazer/ ficar por mais horas até que o pavor/ me dissipasse a água e enfim fôssemos/ iguais na condição da chuva e o teu/ marco no meu tronco fosse algo/ que nunca mais pudesses levar ou tomar/ de volta.” (p. 70). Este poema de tensão sexual traça uma tensão poética. Por isso, Litoral. E aqui peço licença para citar “Os sentidos do acidental” de Jorge Fernandes da Silveira, que confessa no prefácio a Réplica das urtigas gostar tanto deste Poema: “Gosto sobretudo deste modo de estar à beira do corpo do outro como se estivesse (sic) num litoral, lugar há muito confortável para o literário saber-se entre o literal e o metafórico” (p. 19-20). E confesso que gosto desta imagem limite, desta imagem litoral do “olímpico gesto de tatear as tuas/ costas de navio ao erro do exílio” (p. 70) neste livro em que, tensamente, “morte e vida/ irmana” .
Evelyn Blaut Fernandes
Rio, 18 de novembro de 2010.
JORGE, Luiza Neto. Poesia. Poesia. Organização e prefácio de Fernando Cabral Martins. 2. ed. Lisboa: Assírio e Alvim, 2001, p. 234.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
love´s house
no quarto está a luminária inútil
para os nossos rostos nesse cinzel
abafado aonde se escondem as moedas
colhem entre si o plástico e a vaga
impressão das cenas de amor sobre a
espuma protegida de cinza e porque
estamos sempre à força do segredo
sem número, à esquerda dos zeros
como se a lava inteira coubesse
no fundo de um copo e o ritual das
taças quebrasse todo o dia aqui
por onde calo e acendo a cidade
pelo túnel, espesso monte de pausas
em que abro o seu mapa para rezar
o desvio sinuoso dos encontros.
só estive nos cômodos mais baratos
onde o preço da respiração cederia
ao suor que mancha ou marca, tarde,
a luz das madrugadas no quarto onde
somente deito uma floresta e espero.
terça-feira, 30 de novembro de 2010
A ler teu leal conselho compreendi que estar só é ter a si e somente estar consigo, presente, no lugar que a claridade lhe reserva. É a saudade como anda o bicho caranguejo, noturno em sua casa de betume, e é solidão de outro que me torna ausente de mim. Mas uma se torna outra, talvez assim:
Amou o sol que cobria
com minha sombra seu passado
Agora que já não existe,
é minha própria solidão.
Aristóteles Angheben Predebon.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
um fármaco
IN: ARENDT, Hannah. Epílogo a A promessa da política. Rio de Janeiro: Difel, 2008. pp.266-269.
O moderno crescimento da ausência-de-mundo, a destruição de tudo que há entre nós, pode ser também descrito como a expansão do deserto. O fato de vivermos e nos movermos num mundo–deserto foi primeiramente percebido por Nietzsche, também o primeiro a se equivocar em seu diagnóstico. Como quase todos que vieram depois dele, Nietzsche acreditava que o deserto está em nós, assim se revelando não apenas um dos primeiros habitantes conscientes do deserto, mas também, por essa mesma razão, uma vítima de sua mais terrível ilusão. A moderna psicologia é a psicologia do deserto: quando percebemos a faculdade de julgar – sofrer e condenar – começamos a achar que há algo errado conosco por não conseguirmos viver sob as condições da vida no deserto. Na pretensão de nos “ ajudar”, a psicologia nos ajuda a nos “adaptarmos” a essas condições, tirando a nossa única esperança, a saber: que nós, que não somos do deserto, embora vivamos nele, podemos transformá-lo num mundo humano. A psicologia vira tudo de cabeça para baixo: precisamente porque sofremos nas condições do deserto é que ainda somos humanos e ainda estamos intactos; o perigo está em nos tornarmos verdadeiros habitantes do deserto e nele passarmos a nos sentir em casa.
O maior perigo é que no deserto há tempestades de areia e que o deserto não é sempre plácido como um cemitério, onde tudo, afinal, continua sendo possível, mas pode criar um movimento próprio. Essas tempestades são movimentos totalitários cuja principal característica é serem extremamente bem ajustados às condições do deserto. Na verdade, elas não contam com nada mais e parecem, conseqüentemente, a mais adequada forma política de vida no deserto. Tanto a psicologia, o exercício de adaptação da vida humana ao deserto, quanto os movimentos totalitários, as tempestades de areia em que falsas ou pseudo-ações irrompem subitamente da quietude, colocam em risco iminente as duas faculdades humanas que nos permitem transformar pacientemente o deserto, e não a nós mesmos: as faculdades conjugadas da paixão e da ação. É verdade que nas mãos dos movimentos totalitários ou das adaptações da psicologia moderna nós sofremos menos: perdemos a faculdade de sofrer e com ela a virtude da resistência. Só quem é capaz de padecer a paixão de viver sob as condições do deserto pode reunir em si mesmo a coragem que está na base da ação, a coragem de se tornar um ser ativo.
As tempestades de areia ameaçam, além do mais, até mesmo os oásis do deserto sem os quais nenhum de nós poderia resistir, ao passo que a psicologia apenas procura nos tornar tão habituados à vida do deserto, que já não mais sentimos necessidade de oásis. Os oásis são as esferas da vida que existem independentemente, ao menos em larga medida, das condições políticas. O que deu errado foi a política, a nossa existência plural, não o que podemos fazer e criar em nossa experiência no singular: no isolamento do artista, na solidão no filósofo, na relação intrinsecamente sem-mundo entre seres humanos tal como existe no amor e às vezes na amizade – quando um coração se abre diretamente para o outro, como na amizade, ou quando o interstício, o mundo, se incendeia como no amor. Sem a incolumidade desses oásis não conseguiríamos respirar, coisa que os cientistas políticos deveriam saber. Se aqueles que têm que passar suas vidas no deserto, tentando fazer isso e aquilo preocupados com as condições do próprio deserto, não souberem usar os oásis tornar-se-ão habitantes do deserto mesmo sem a ajuda da psicologia. Em outras palavras: os oásis, que não são lugares de “relaxamento”, mas fontes vitais que nos permitem viver no deserto sem nos reconciliarmos com ele, secarão.
O perigo oposto é muito mais comum. Seu nome usual é escapismo: escapar do mundo do deserto, da política para... o que quer que seja, é uma forma menos perigosa e mais sutil de arruinar os oásis do que as tempestades de areia que começam exteriormente por assim dizer a sua existência. No afã de escapar, levamos as areias do deserto para os oásis assim como Kierkegaard, no afã de escapar da dúvida levou a própria dúvida para a religião ao dar o salto para a fé. A falta de resistência, a incapacidade de reconhecer e padecer a dúvida como uma das condições fundamentais da vida moderna, introduz a dúvida na única esfera onde ela jamais deveria entrar: a esfera religiosa, estritamente falando, a esfera da fé. Este é apenas um exemplo que mostra o que pode nos suceder no afã de escapar do deserto. Pelo fato de arruinarmos os oásis vitais quando vamos a eles com o propósito de escapar deles, às vezes é como se tudo conspirasse para generalizar as condições do deserto.
Também isto é uma ilusão. Em última análise, o mundo humano é sempre o produto do amor mundi do homem um artifício humano cuja potencial imortalidade está sempre sujeita a mortalidade daqueles que o constroem e a natalidade daqueles que vêm viver nele. É uma eterna verdade o que disse Hamlet: “O Mundo está fora dos eixos; Ó que grande Maldição/ Eu ter nascido para trazê-lo à razão!” Neste sentido, na sua necessidade de iniciantes para que ele possa começar de novo, o mundo é sempre um deserto. Mas da condição de não-mundo que veio à luz na era moderna – que não deve ser confundida com a condição cristã de outro-mundo - proveio a pergunta de Leibniz, Schelling e Heidegger: Por que existe alguma coisa em vez de nada? E das condições específicas de nosso mundo contemporâneo, que nos ameaça não apenas com o nada, mas também com o ninguém, talvez surja a pergunta: Por que existe alguém em vez de ninguém? Estas perguntas podem parecer niilistas, mas não são. Ao contrário, são perguntas anti-niilistas feitas numa situação objetiva de niilismo em que o nada e o ninguém ameaçam destruir o mundo.
Este texto é a conclusão de um curso intitulado “História da Teoria Política” , que Arendt ministrou na Universidade de Berkeley, na Califórnia, na Primavera de 1955.
O moderno crescimento da ausência-de-mundo, a destruição de tudo que há entre nós, pode ser também descrito como a expansão do deserto. O fato de vivermos e nos movermos num mundo–deserto foi primeiramente percebido por Nietzsche, também o primeiro a se equivocar em seu diagnóstico. Como quase todos que vieram depois dele, Nietzsche acreditava que o deserto está em nós, assim se revelando não apenas um dos primeiros habitantes conscientes do deserto, mas também, por essa mesma razão, uma vítima de sua mais terrível ilusão. A moderna psicologia é a psicologia do deserto: quando percebemos a faculdade de julgar – sofrer e condenar – começamos a achar que há algo errado conosco por não conseguirmos viver sob as condições da vida no deserto. Na pretensão de nos “ ajudar”, a psicologia nos ajuda a nos “adaptarmos” a essas condições, tirando a nossa única esperança, a saber: que nós, que não somos do deserto, embora vivamos nele, podemos transformá-lo num mundo humano. A psicologia vira tudo de cabeça para baixo: precisamente porque sofremos nas condições do deserto é que ainda somos humanos e ainda estamos intactos; o perigo está em nos tornarmos verdadeiros habitantes do deserto e nele passarmos a nos sentir em casa.
O maior perigo é que no deserto há tempestades de areia e que o deserto não é sempre plácido como um cemitério, onde tudo, afinal, continua sendo possível, mas pode criar um movimento próprio. Essas tempestades são movimentos totalitários cuja principal característica é serem extremamente bem ajustados às condições do deserto. Na verdade, elas não contam com nada mais e parecem, conseqüentemente, a mais adequada forma política de vida no deserto. Tanto a psicologia, o exercício de adaptação da vida humana ao deserto, quanto os movimentos totalitários, as tempestades de areia em que falsas ou pseudo-ações irrompem subitamente da quietude, colocam em risco iminente as duas faculdades humanas que nos permitem transformar pacientemente o deserto, e não a nós mesmos: as faculdades conjugadas da paixão e da ação. É verdade que nas mãos dos movimentos totalitários ou das adaptações da psicologia moderna nós sofremos menos: perdemos a faculdade de sofrer e com ela a virtude da resistência. Só quem é capaz de padecer a paixão de viver sob as condições do deserto pode reunir em si mesmo a coragem que está na base da ação, a coragem de se tornar um ser ativo.
As tempestades de areia ameaçam, além do mais, até mesmo os oásis do deserto sem os quais nenhum de nós poderia resistir, ao passo que a psicologia apenas procura nos tornar tão habituados à vida do deserto, que já não mais sentimos necessidade de oásis. Os oásis são as esferas da vida que existem independentemente, ao menos em larga medida, das condições políticas. O que deu errado foi a política, a nossa existência plural, não o que podemos fazer e criar em nossa experiência no singular: no isolamento do artista, na solidão no filósofo, na relação intrinsecamente sem-mundo entre seres humanos tal como existe no amor e às vezes na amizade – quando um coração se abre diretamente para o outro, como na amizade, ou quando o interstício, o mundo, se incendeia como no amor. Sem a incolumidade desses oásis não conseguiríamos respirar, coisa que os cientistas políticos deveriam saber. Se aqueles que têm que passar suas vidas no deserto, tentando fazer isso e aquilo preocupados com as condições do próprio deserto, não souberem usar os oásis tornar-se-ão habitantes do deserto mesmo sem a ajuda da psicologia. Em outras palavras: os oásis, que não são lugares de “relaxamento”, mas fontes vitais que nos permitem viver no deserto sem nos reconciliarmos com ele, secarão.
O perigo oposto é muito mais comum. Seu nome usual é escapismo: escapar do mundo do deserto, da política para... o que quer que seja, é uma forma menos perigosa e mais sutil de arruinar os oásis do que as tempestades de areia que começam exteriormente por assim dizer a sua existência. No afã de escapar, levamos as areias do deserto para os oásis assim como Kierkegaard, no afã de escapar da dúvida levou a própria dúvida para a religião ao dar o salto para a fé. A falta de resistência, a incapacidade de reconhecer e padecer a dúvida como uma das condições fundamentais da vida moderna, introduz a dúvida na única esfera onde ela jamais deveria entrar: a esfera religiosa, estritamente falando, a esfera da fé. Este é apenas um exemplo que mostra o que pode nos suceder no afã de escapar do deserto. Pelo fato de arruinarmos os oásis vitais quando vamos a eles com o propósito de escapar deles, às vezes é como se tudo conspirasse para generalizar as condições do deserto.
Também isto é uma ilusão. Em última análise, o mundo humano é sempre o produto do amor mundi do homem um artifício humano cuja potencial imortalidade está sempre sujeita a mortalidade daqueles que o constroem e a natalidade daqueles que vêm viver nele. É uma eterna verdade o que disse Hamlet: “O Mundo está fora dos eixos; Ó que grande Maldição/ Eu ter nascido para trazê-lo à razão!” Neste sentido, na sua necessidade de iniciantes para que ele possa começar de novo, o mundo é sempre um deserto. Mas da condição de não-mundo que veio à luz na era moderna – que não deve ser confundida com a condição cristã de outro-mundo - proveio a pergunta de Leibniz, Schelling e Heidegger: Por que existe alguma coisa em vez de nada? E das condições específicas de nosso mundo contemporâneo, que nos ameaça não apenas com o nada, mas também com o ninguém, talvez surja a pergunta: Por que existe alguém em vez de ninguém? Estas perguntas podem parecer niilistas, mas não são. Ao contrário, são perguntas anti-niilistas feitas numa situação objetiva de niilismo em que o nada e o ninguém ameaçam destruir o mundo.
Este texto é a conclusão de um curso intitulado “História da Teoria Política” , que Arendt ministrou na Universidade de Berkeley, na Califórnia, na Primavera de 1955.
terça-feira, 5 de outubro de 2010
sábado, 2 de outubro de 2010
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Quisera dar nome, muitos, a isso de mim
Chagoso, triste, informe. Uns resíduos da tarde
Algumas aves, e asas buscando tua cara de fuligem.
De áspide.
Quisera dar o nome de Roxura, porque a ânsia
Tem parecimento com esse desmesurado de mim
Que te procura. Mas também não é isso
Este meu neblinar contínuo que te busca.
Ando em grandes vaguezas, açoitando os ares
Relinchando sombras, carreando o nada.
Os que me vêem me gritam: como tem passado
A aldeã de sua alteza? E há chacotas e risos.
Mas vem vindo de ti um entremuro de sons e de ciclos
Um labiar de sabores, um sem nome de passos
como se, águas pequenas desaguassem
Num pomar de abios. Como se eu mesma
Flutuasse, cativa, ofélica, sobre a tua Grande Face.
Hilda Hilst. Do Desejo.
Chagoso, triste, informe. Uns resíduos da tarde
Algumas aves, e asas buscando tua cara de fuligem.
De áspide.
Quisera dar o nome de Roxura, porque a ânsia
Tem parecimento com esse desmesurado de mim
Que te procura. Mas também não é isso
Este meu neblinar contínuo que te busca.
Ando em grandes vaguezas, açoitando os ares
Relinchando sombras, carreando o nada.
Os que me vêem me gritam: como tem passado
A aldeã de sua alteza? E há chacotas e risos.
Mas vem vindo de ti um entremuro de sons e de ciclos
Um labiar de sabores, um sem nome de passos
como se, águas pequenas desaguassem
Num pomar de abios. Como se eu mesma
Flutuasse, cativa, ofélica, sobre a tua Grande Face.
Hilda Hilst. Do Desejo.
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
uma epígrafe
“Estão aqui indicadas algumas das implicações directamente políticas do trabalho de Llansol. Por um lado, um questionamento de todo o poder sobre um texto, quer o do autor que o escreve, quer o do leitor que o lê, na medida em que ambos se deixam envolver e atravessar pela corrente anônima da textualidade (onde a própria distinção ler/escrever se vai diluindo). Isto significa que a textualidade se propõe como comunidade de iguais, isto é, como a radicalidade de um projecto democrático. Mas com duas reservas em relação às espectativas tradicionais: em primeiro lugar, esta igualdade não é um dado, mas uma conquista; em segundo lugar, esta igualdade só é possível não no espaço do confronto e concorrência em que decorre o drama da História.
Numa época sem utopias, o texto de Llansol é certamente um dos mais ferozmente utópicos que nos sentimos capazes de inventar. É esta radicalidade e esta ferocidade que o tornam de certo modo inadequado em relação às rotinas de leitura que um prêmio como este tende a suscitar. Mas não podemos deixar de exprimir o júbilo que nos chega de pensarmos que, por um mecanismo talvez desajeitado, poderá haver cem, dez, dois, ou mesmo um só leitor a mais a entrar nessa comunidade de textos em que regularmente nos perdemos e reencontramos com Maria Gabriela Llansol.
É verdade que estes textos me fascinam, mesmo quando não estou certo de os entender perfeitamente (melhor: sobretudo quando não estou certo). É verdade (creio) que estes textos fascinam tanto Maria Gabriela Llansol como a mim próprio. E o facto de neles se desarmar toda a autoridade de um autor que os torna simultaneamente precários, vulneráveis e deslumbrantes. Qualquer leitor pode bater à porta e entrar. O que o aguarda é apenas a serenidade e a justeza das coisas evidentes: pão, água, o convívio com as plantas e os animais, alguma luz mesmo de noite, alguma noite no corpo da própria luz. E o amor como partilha do mais difícil.”
Eduardo Prado Coelho, “Um prémio dado mais tarde”.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
domingo, 29 de agosto de 2010
às vezes uma flor
e essas folhagens da página aberta sobre
o domingo sem vistas ou tatos de móveis
o que eu desejava tinha a ver com as
moradas e seus quartos como a possível
ornamentação do que os livros escondem
ao canto as jibóias que resistem a todo
escuro o cobre derrama o seu veneno
ao longo dos cabelos e a canção foi
suspensa pelo sono pela areia esfriada
e do ninho violado restaram o tecido
arrancado da roupa de cama e pequenas
peças de vidro em mosaico, verde e lilás
como vestígios de um copo em que pousávamos
às vezes uma flor.
terça-feira, 24 de agosto de 2010
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Aprendi a viver com simplicidade, com juízo,
a olhar o céu, a fazer minhas orações,
a passear sozinha até a noite,
até ter esgotado esta angústia inútil.
Enquanto no penhasco murmuram as bardanas
e declina o alaranjado cacho da sorveira,
componho versos bem alegres
sobre a vida caduca, caduca e belíssima.
Volto para casa. Vem lamber a minha mão
o gato peludo, que ronrona docemente,
e um fogo resplandecente brilha
no topo da serraria, à beira do lago.
Só de vez em quando o silêncio é interrompido
pelo grito da cegonha pousando no telhado.
Se vieres bater à minha porta,
é bem possível que eu sequer te ouça.
Anna Akhmátova
(tradução de Lauro Machado Coelho)
a olhar o céu, a fazer minhas orações,
a passear sozinha até a noite,
até ter esgotado esta angústia inútil.
Enquanto no penhasco murmuram as bardanas
e declina o alaranjado cacho da sorveira,
componho versos bem alegres
sobre a vida caduca, caduca e belíssima.
Volto para casa. Vem lamber a minha mão
o gato peludo, que ronrona docemente,
e um fogo resplandecente brilha
no topo da serraria, à beira do lago.
Só de vez em quando o silêncio é interrompido
pelo grito da cegonha pousando no telhado.
Se vieres bater à minha porta,
é bem possível que eu sequer te ouça.
Anna Akhmátova
(tradução de Lauro Machado Coelho)
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
domingo, 15 de agosto de 2010
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
segunda-feira, 19 de julho de 2010
carta para arcíria
não te assombram os ciprestes nem
as vestes da tarde límpida que
declinava na cidade ao inverno
dos teus queixumes, dos teus modos
de olhar o insossego ou a vista parcial
das linhas
de modo que estás detida no carbono
acendido ao coração, frasco
para paisagem ou migração do
que é dureza, acrílico, encomendas e
vozes que deixamos fixas noutras
imagens que julgamos mortas e
vão apenas ao encontro da mesma
parte nossa que mãe é e que nos
sobra enquanto falta e por isso
não te assombram os sinos e as
corolas sobre o corpo irremediável
porque danças no bosque a feitura das
redes
e hoje ainda serás recebida pelos elos
doutra margem
com cantos e esferas doces - uma ambrosia
firme para o que chegam e partem -
entre os galhos de julho, tanto de
partidas e passagens.
as vestes da tarde límpida que
declinava na cidade ao inverno
dos teus queixumes, dos teus modos
de olhar o insossego ou a vista parcial
das linhas
de modo que estás detida no carbono
acendido ao coração, frasco
para paisagem ou migração do
que é dureza, acrílico, encomendas e
vozes que deixamos fixas noutras
imagens que julgamos mortas e
vão apenas ao encontro da mesma
parte nossa que mãe é e que nos
sobra enquanto falta e por isso
não te assombram os sinos e as
corolas sobre o corpo irremediável
porque danças no bosque a feitura das
redes
e hoje ainda serás recebida pelos elos
doutra margem
com cantos e esferas doces - uma ambrosia
firme para o que chegam e partem -
entre os galhos de julho, tanto de
partidas e passagens.
sábado, 19 de junho de 2010
domingo, 13 de junho de 2010
Zamba para no morir
Romperá la tarde mi voz
hasta el eco de ayer.
voy quedándome solo al final,
muerto de sed, harto de andar.
pero sigo creciendo en el sol,
vivo.
Era el tiempo viejo la flor,
la madera frutal.
luego el hacha se puso a golpear,
verse caer, sólo rodar.
pero el árbol reverdecerá
nuevo.
Al quemarse en el cielo la luz del día
me voy.
con el cuero asombrado me iré,
ronco al gritar que volveré
repartido en el aire a cantar,
siempre.
Mi razón no pide piedad,
se dispone a partir.
no me asusta la muerte ritual,
sólo dormir, verme borrar.
una historia me recordará
siempre.
Veo el campo, el fruto, la miel
y estas ganas de amar.
no me puede el olvido vencer,
hoy como ayer, siempre llegar.
en el hijo se puede volver
nuevo.
Mercedes Sosa
hasta el eco de ayer.
voy quedándome solo al final,
muerto de sed, harto de andar.
pero sigo creciendo en el sol,
vivo.
Era el tiempo viejo la flor,
la madera frutal.
luego el hacha se puso a golpear,
verse caer, sólo rodar.
pero el árbol reverdecerá
nuevo.
Al quemarse en el cielo la luz del día
me voy.
con el cuero asombrado me iré,
ronco al gritar que volveré
repartido en el aire a cantar,
siempre.
Mi razón no pide piedad,
se dispone a partir.
no me asusta la muerte ritual,
sólo dormir, verme borrar.
una historia me recordará
siempre.
Veo el campo, el fruto, la miel
y estas ganas de amar.
no me puede el olvido vencer,
hoy como ayer, siempre llegar.
en el hijo se puede volver
nuevo.
Mercedes Sosa
quarta-feira, 19 de maio de 2010
terça-feira, 18 de maio de 2010
.oid diz:
com uams já trepei com outras não, mas isso não é um problema.
isso é o gozo do freud.
o objetivo é identificar um desejo por alguma delas.
.almost blue diz:
hmm. parece complexo...
parece sempre tão patético esse desejo de morrer...
ai ai
.oid diz:
eu deixei de sentir desde que adotei a postura de não "viver a vida".
.almost blue diz:
por mim, desde que vc não dê depoimentos no fim da novela, tá tudo bem
.oid diz:
heheh
não tô aqui pra isso.
tô aqui pra ver nêgo fazendo isso e ficar pensando.
.almost blue diz:
boa
.oid diz:
sério, ana.
a gente j´afaz isso há muito tempo e não assume.
a interpreta a vida enquanto a maioria vive.
eu vi uma entrevista da clarice e isso ficou muito claro pra mim.
.almost blue diz:
a tal entrevista em que ela diz que está morta?
.oid diz:
não que eu queira ser o desgosto encarnado como ela demonstrava ver com aquele sotaque quimérico dela...
quando ela diz isso ela quer dizer que não vive, mas ela morreu sabendo mais de vida que a grande maioria.
era o talento dela.
é o nosso também.
a gente nasceu pra saber sobre vida e ensinar os que vivem a viverem.
nem que seja mostrando:
olha! é assim que você se fode, tá vendo?
.almost blue diz:
vc precisa escrever sobre isso, fábio.
.oid diz:
eu tô escrevendo agora.
e você é meu público.
é o que mais me importa.
.almost blue diz:
é bem bom isso.
.oid diz:
eu sou teu público também.
sobe no palco pra mim.
com uams já trepei com outras não, mas isso não é um problema.
isso é o gozo do freud.
o objetivo é identificar um desejo por alguma delas.
.almost blue diz:
hmm. parece complexo...
parece sempre tão patético esse desejo de morrer...
ai ai
.oid diz:
eu deixei de sentir desde que adotei a postura de não "viver a vida".
.almost blue diz:
por mim, desde que vc não dê depoimentos no fim da novela, tá tudo bem
.oid diz:
heheh
não tô aqui pra isso.
tô aqui pra ver nêgo fazendo isso e ficar pensando.
.almost blue diz:
boa
.oid diz:
sério, ana.
a gente j´afaz isso há muito tempo e não assume.
a interpreta a vida enquanto a maioria vive.
eu vi uma entrevista da clarice e isso ficou muito claro pra mim.
.almost blue diz:
a tal entrevista em que ela diz que está morta?
.oid diz:
não que eu queira ser o desgosto encarnado como ela demonstrava ver com aquele sotaque quimérico dela...
quando ela diz isso ela quer dizer que não vive, mas ela morreu sabendo mais de vida que a grande maioria.
era o talento dela.
é o nosso também.
a gente nasceu pra saber sobre vida e ensinar os que vivem a viverem.
nem que seja mostrando:
olha! é assim que você se fode, tá vendo?
.almost blue diz:
vc precisa escrever sobre isso, fábio.
.oid diz:
eu tô escrevendo agora.
e você é meu público.
é o que mais me importa.
.almost blue diz:
é bem bom isso.
.oid diz:
eu sou teu público também.
sobe no palco pra mim.
domingo, 16 de maio de 2010
I want to live,
I want to give
I've been a miner
for a heart of gold.
It's these expressions
I never give
That keep me searching
for a heart of gold
And I'm getting old.
Keeps me searching
for a heart of gold
And I'm getting old.
I've been to Hollywood
I've been to Redwood
I crossed the ocean
for a heart of gold
I've been in my mind,
it's such a fine line
That keeps me searching
for a heart of gold
And I'm getting old.
Keeps me searching
for a heart of gold
And I'm getting old.
Keep me searching
for a heart of gold
You keep me searching
for a heart of gold
And I'm growing old.
I've been a miner
for a heart of gold.
Neil Young, "Heart of Gold".
I want to give
I've been a miner
for a heart of gold.
It's these expressions
I never give
That keep me searching
for a heart of gold
And I'm getting old.
Keeps me searching
for a heart of gold
And I'm getting old.
I've been to Hollywood
I've been to Redwood
I crossed the ocean
for a heart of gold
I've been in my mind,
it's such a fine line
That keeps me searching
for a heart of gold
And I'm getting old.
Keeps me searching
for a heart of gold
And I'm getting old.
Keep me searching
for a heart of gold
You keep me searching
for a heart of gold
And I'm growing old.
I've been a miner
for a heart of gold.
Neil Young, "Heart of Gold".
sábado, 15 de maio de 2010
armada
é possível cercar os alimentos
na envergadura justa dos ritos
nostalgia de um missal posso
entrar em silêncio depois de
longa inequação para água, óleo
veloz, esfera ou cinza sobre
sótão imemomorial do que falo
sinto pois atrito em repuxo
são talheres migrando vivos
não, nada comigo tirante
um veneno inaparente da força
e horda santa Grave,
deus
posso posso não ceder
ao capítulo.
na envergadura justa dos ritos
nostalgia de um missal posso
entrar em silêncio depois de
longa inequação para água, óleo
veloz, esfera ou cinza sobre
sótão imemomorial do que falo
sinto pois atrito em repuxo
são talheres migrando vivos
não, nada comigo tirante
um veneno inaparente da força
e horda santa Grave,
deus
posso posso não ceder
ao capítulo.
terça-feira, 11 de maio de 2010
quarta-feira, 7 de abril de 2010
sábado, 27 de março de 2010
segunda-feira, 22 de março de 2010
Carta para Mariana, nos seus anos
Há muito alguns chamavam de amigas
aquelas que se amavam na espera da
noite, escuro a dentro ou a madrugada.
É também assim que te conheço,
Mariana, não somente como nome ou mãos
fechadas; em ti foi possível um
pouso longo de asas, marco alfa em
nome de uma mulher funda em corpo
de paisagem muito alta. Da tua pele,
Mariana, eu nunca esqueci o açoite e
é por isso que em ti agora existo e
me encontrava; como além
de órfãs eu reconhecia a tramitação
de uma tristeza certa que não dizia
respeito apenas ao teu continente
mas sobretudo ao que houvera sido
perdido ou nunca possível, porque
a medicina do amor nos desenganara.
E permanecemos um pouco adoentadas
no princípio de pouco verbo, a meio-amor
interdito e planos precoces fadados ao
pavor do que uma História de falas legava
tiranicamente ao corpo impossível porque
em nossas próprias mãos nós não estávamos.
De repente, Mariana, um dia acordei depois
de muito duvidar e te encontrei ressonando
real, mais bela que todas as outras humanas
criaturas e pressenti que uma chave me havia
sido dada, para poder entrar e encontrar repouso
dentro de uma lua no interior da casa, farta,
larga e genuína como a astúcia dos carneiros.
A tua lealdade ao fogo e à água que nos torna
prontas dá sentido ao teu porte ético de profunda
realeza, Mariana,
e também por isso há muito não és apenas amiga
mas noiva, rosa e alcaçuz
daí que o teu nome esteja inscrito na causa
amante porque teu é o terreno, Baobá precioso
raiz por onde alimento a terra que me falta.
Rio de Janeiro, 23 de março de 2010.
aquelas que se amavam na espera da
noite, escuro a dentro ou a madrugada.
É também assim que te conheço,
Mariana, não somente como nome ou mãos
fechadas; em ti foi possível um
pouso longo de asas, marco alfa em
nome de uma mulher funda em corpo
de paisagem muito alta. Da tua pele,
Mariana, eu nunca esqueci o açoite e
é por isso que em ti agora existo e
me encontrava; como além
de órfãs eu reconhecia a tramitação
de uma tristeza certa que não dizia
respeito apenas ao teu continente
mas sobretudo ao que houvera sido
perdido ou nunca possível, porque
a medicina do amor nos desenganara.
E permanecemos um pouco adoentadas
no princípio de pouco verbo, a meio-amor
interdito e planos precoces fadados ao
pavor do que uma História de falas legava
tiranicamente ao corpo impossível porque
em nossas próprias mãos nós não estávamos.
De repente, Mariana, um dia acordei depois
de muito duvidar e te encontrei ressonando
real, mais bela que todas as outras humanas
criaturas e pressenti que uma chave me havia
sido dada, para poder entrar e encontrar repouso
dentro de uma lua no interior da casa, farta,
larga e genuína como a astúcia dos carneiros.
A tua lealdade ao fogo e à água que nos torna
prontas dá sentido ao teu porte ético de profunda
realeza, Mariana,
e também por isso há muito não és apenas amiga
mas noiva, rosa e alcaçuz
daí que o teu nome esteja inscrito na causa
amante porque teu é o terreno, Baobá precioso
raiz por onde alimento a terra que me falta.
Rio de Janeiro, 23 de março de 2010.
domingo, 14 de março de 2010
quinta-feira, 11 de março de 2010
sempre um pouco mais
quinta-feira, 4 de março de 2010
depois de traduzir Hélène Dorion
Amar o Universo não me traz mágoa.
Sobretudo, amar a areia
arrebata-me de júbilo e paixão.
Amar o mar completa a minha vida
com o tacto de um amor imenso.
Mas veio o vento e, por momentos,
amargurou o meu corpo, a oscilar.
E está o Sol aqui, depois de uns dias
com o jardim obscurecido a beber sombra.
E sei que os átomos zumbem
e dançam como os insectos,
ébrios em redor do pólen.
Fiama Hasse Pais Brandão in Cenas Vivas.
Amar o Universo não me traz mágoa.
Sobretudo, amar a areia
arrebata-me de júbilo e paixão.
Amar o mar completa a minha vida
com o tacto de um amor imenso.
Mas veio o vento e, por momentos,
amargurou o meu corpo, a oscilar.
E está o Sol aqui, depois de uns dias
com o jardim obscurecido a beber sombra.
E sei que os átomos zumbem
e dançam como os insectos,
ébrios em redor do pólen.
Fiama Hasse Pais Brandão in Cenas Vivas.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
lançamento, enfim
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
mas é carnaval/ não me diga mais quem é você
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Carta para Sebastião
Quando uma música começa muito barulhenta
é porque sua urgência precede a harmonia,
uma voz de neve teve de ser sacrificada para
que os repetidos nós não golpeassem
até o fim
a vida diminuta e inútil dos intensos.
Falo contigo destas canções sem que
conheça perfeitamente a teoria desse
mundo
embora isso já o saibas porque estás
ao lado, tão próximo que, se estendo
um livro, ele deita no teu peito
desperta conosco
para que um poema sobre nós esteja
pressentido.
De um encontro longínquo vêm outras
músicas fundas, e são alimento integral
para os que crêem em misericórdia como
nós
porque falo contigo das nossas luas
dos conhecidos que morrem onde
fazemos fotografias e da lonjura
que alcança a nossa voz silenciosa
de estar indignados mesmo conscientes
quando a imagem de um Homem
nos comove e tão rapidamente
desaparece.
Quando sentamos à mesa, juro, não
há como não sentir as vibrações da
amizade, a força extensa do fogo, a
nascedura da água e a terra doméstica
cruzando o que de amor colocamos
no pão
talvez porque conheças a língua de que
falo a música e a música de ti fale uma
história de faltas e de migrações
desfeitas desde que nascemos tão
separadamente no mapa de uma foz.
Há lugares que se ocupam de vazios
depois de tanta travessia, e de montes
rochas e poeiras ganhamos céus, corpos
em abraços, sementes e palavras que
nos inauguram novos pés. E, Sebastião,
se falo contigo do mundo é porque
também não o sei diferente desta dificuldade,
mas o desejo para nós com humanidade que
nos cintile e que, tenhamos uma tarefa ou não,
possamos seguidamente receber
os que amamos nas nossas terras nas
nossas mesas e nas nossas camas como
um Bem precioso da fraternidade e do
Amor mesmo
entre nós.
é porque sua urgência precede a harmonia,
uma voz de neve teve de ser sacrificada para
que os repetidos nós não golpeassem
até o fim
a vida diminuta e inútil dos intensos.
Falo contigo destas canções sem que
conheça perfeitamente a teoria desse
mundo
embora isso já o saibas porque estás
ao lado, tão próximo que, se estendo
um livro, ele deita no teu peito
desperta conosco
para que um poema sobre nós esteja
pressentido.
De um encontro longínquo vêm outras
músicas fundas, e são alimento integral
para os que crêem em misericórdia como
nós
porque falo contigo das nossas luas
dos conhecidos que morrem onde
fazemos fotografias e da lonjura
que alcança a nossa voz silenciosa
de estar indignados mesmo conscientes
quando a imagem de um Homem
nos comove e tão rapidamente
desaparece.
Quando sentamos à mesa, juro, não
há como não sentir as vibrações da
amizade, a força extensa do fogo, a
nascedura da água e a terra doméstica
cruzando o que de amor colocamos
no pão
talvez porque conheças a língua de que
falo a música e a música de ti fale uma
história de faltas e de migrações
desfeitas desde que nascemos tão
separadamente no mapa de uma foz.
Há lugares que se ocupam de vazios
depois de tanta travessia, e de montes
rochas e poeiras ganhamos céus, corpos
em abraços, sementes e palavras que
nos inauguram novos pés. E, Sebastião,
se falo contigo do mundo é porque
também não o sei diferente desta dificuldade,
mas o desejo para nós com humanidade que
nos cintile e que, tenhamos uma tarefa ou não,
possamos seguidamente receber
os que amamos nas nossas terras nas
nossas mesas e nas nossas camas como
um Bem precioso da fraternidade e do
Amor mesmo
entre nós.
Maldição AFA:
porque eu estou vertida em António Franco Alexandre há meses por causa de um ensaio que não sai - faz tempo - das 9 páginas. toca muitíssimo, dialoga com as minhas falhas, abre as trompas e não contraio nenhum som maternal.
um dia
seremos úteis e preciosos como a erva e a cabra,
e ricos de virtudes saberemos
o que fazer para morrer, não morrer. entretanto
ela lateja na núpcia do sangue, inteiramente ignorante
do grando sentido de tudo isto,
egoísta como a primeira mão
que nos tocou,
um destino leviano, sensível, pacato,
depois o sulco deixado reparte as colinas
e o pequeno piano repete
a criação do mundo.
vão aparecendo os casos de suicídio entre amigos e colegas. todos já têm trinta anos ou mais, agora. fico com a jovialidade da Mariana, que me pergunta a causa das coisas cujas razões não sei responder, apenas sentir, como é praxe.
um dia
seremos úteis e preciosos como a erva e a cabra,
e ricos de virtudes saberemos
o que fazer para morrer, não morrer. entretanto
ela lateja na núpcia do sangue, inteiramente ignorante
do grando sentido de tudo isto,
egoísta como a primeira mão
que nos tocou,
um destino leviano, sensível, pacato,
depois o sulco deixado reparte as colinas
e o pequeno piano repete
a criação do mundo.
vão aparecendo os casos de suicídio entre amigos e colegas. todos já têm trinta anos ou mais, agora. fico com a jovialidade da Mariana, que me pergunta a causa das coisas cujas razões não sei responder, apenas sentir, como é praxe.
sábado, 30 de janeiro de 2010
domingo, 24 de janeiro de 2010
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Estou só, na zona das metáforas
(que é todo o pensamento),
em nenhum resíduo nada exprimo
(mas sempre metaforizo).
Não sinto a solidão total
dos poemas, talvez grutas,
o mar quieto, nem silêncio.
Apenas espero o outro,
um amor esplêndido,
alheio e desejável.
Fiama Hasse Pais Brandão.Visões Mínimas (1968-1974).
(que é todo o pensamento),
em nenhum resíduo nada exprimo
(mas sempre metaforizo).
Não sinto a solidão total
dos poemas, talvez grutas,
o mar quieto, nem silêncio.
Apenas espero o outro,
um amor esplêndido,
alheio e desejável.
Fiama Hasse Pais Brandão.Visões Mínimas (1968-1974).
sábado, 9 de janeiro de 2010
john frusciante
john frusciante é ex-RHCP, carente, problemático, grava discos e músicas ruins e no entanto é um dos homens mais doces e charmosos do mundo. produziu parte da trilha (que não se vê/ ouve) do filme brown bunny (vincent gallo, 2004). dentre elas, abaixo a mais bonita. sem vídeo. só a capa do cd.
tinha que ser pisciano...
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
6.
quando o poema, a música se esvai do metal
e nada resta na parede, no linóleo, no veludo
da cadeira, quando o teatro se evapora, sequentes
edifícios se fazem e se estiolam, quando o poema,
a música se esvai da carne e nada resta
da emoção, da febre, do céu por um milionésimo
de tempo surpreendido, quando tudo se fecha
e o real é a eterna imagem agarrada ao eterno
espaço, sem janela alguma além da própria janela
escancarada sobre si mesma, eterna paisagem aferrada
ao eterníssimo espelho, quando nem a memória
do poema, da música, do amor desatinado
de infinito, quando tudo é mais que efêmero,
rápido e definitivo, solidão, quem se ergue afinal
na guelra ensangüentada, na ácida lâmpada deste metal?
Afonso Henriques Neto. de Avenida Eros.
e nada resta na parede, no linóleo, no veludo
da cadeira, quando o teatro se evapora, sequentes
edifícios se fazem e se estiolam, quando o poema,
a música se esvai da carne e nada resta
da emoção, da febre, do céu por um milionésimo
de tempo surpreendido, quando tudo se fecha
e o real é a eterna imagem agarrada ao eterno
espaço, sem janela alguma além da própria janela
escancarada sobre si mesma, eterna paisagem aferrada
ao eterníssimo espelho, quando nem a memória
do poema, da música, do amor desatinado
de infinito, quando tudo é mais que efêmero,
rápido e definitivo, solidão, quem se ergue afinal
na guelra ensangüentada, na ácida lâmpada deste metal?
Afonso Henriques Neto. de Avenida Eros.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Tonight a storm shall pass...
Tonight a storm shall pass across the black of your land --
And assail forests meditating on their strength and moistening their prey.
It shall warm the breath of fields,
And reveal rivers, strike at their nakedness
And lift up their mist.
On this night --
It will worry the walls of your house - suffocating, groaning;
And frightened, will escape to the forest
In a moment it will return, shrieking,
Smash your door and burst up your stairs,
The howl of its laugh will wrest you from the grasp of fevered dreams
Its cool flight will touch your burning brow,
On it will fly, on it will yell --
You will lie there
Back heavy and comfortless, breath flickering
Listening closely,
Eyes bare and night-trapped...
Until a young, pale-faced day comes,
Peering with surprised eyes into the world
You will yearn for him all the sadness of your longings -
And tremble...
Not know your own soul...
-- For spring has come upon you
Tonight, in the passing of a storm.
Lvov 1903
Avraham Ben-Yitzhak
And assail forests meditating on their strength and moistening their prey.
It shall warm the breath of fields,
And reveal rivers, strike at their nakedness
And lift up their mist.
On this night --
It will worry the walls of your house - suffocating, groaning;
And frightened, will escape to the forest
In a moment it will return, shrieking,
Smash your door and burst up your stairs,
The howl of its laugh will wrest you from the grasp of fevered dreams
Its cool flight will touch your burning brow,
On it will fly, on it will yell --
You will lie there
Back heavy and comfortless, breath flickering
Listening closely,
Eyes bare and night-trapped...
Until a young, pale-faced day comes,
Peering with surprised eyes into the world
You will yearn for him all the sadness of your longings -
And tremble...
Not know your own soul...
-- For spring has come upon you
Tonight, in the passing of a storm.
Lvov 1903
Avraham Ben-Yitzhak
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
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