terça-feira, 30 de junho de 2009

tua morte no meu dia de hoje
não ergueu com tinta um só golpe
de estado

nenhuma personagem em desespero
desarrumou os móveis do quadro
na parede da sala

onde nos sentaríamos

e onde nem um homem sequer em meia vida
pôde depois de se embebedar para te chorar
por mim

nem nos bares se conspirou
das noites escondidas
na biografia

eu no meu dia aqui
sem descrever
o paradeiro de um corpo

e mais do que nunca nada que eu cale
abafa o grito do teu lugar sobre o branco.

"Tua morte no meu dia", Virgínia Boechat.

domingo, 28 de junho de 2009

Modeste est ta fenêtre sur les sillons ingrats
sa bordure d´orties sous les ombres du nord
le chemin descendant de tout son vide vers
la banale demeure sur son fond d´herbes sèches
qu´affole en les couchant le vent sous ses rafales

opaque l´hologramme que tu es devenu
ombre em songe de plus sous les songes des ombres
le long des pierres noires que oublièrent l´homme

agonie d´avenir à l´écart qui chancelle
haut ciel de miroir froid si transparent de s´être
de présence evidente un matin évidé.

Jean Pérol.

segunda-feira, 22 de junho de 2009




O vôo é com os pássaros. Tiradentes, Mg.

Sinos na Igreja das Mercês em São João Del Rey

eu queria mesmo era ir numa festa junina.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

abres o mapa da europa e
assinalas o lugar perdido junto ao mar - o sol
fulmina a narceja e o leite sábio das mães
coalhou num sabor a plâncton e húmus

na floresta da janela virada ao mar
secaram os goivos dos navegantes e um cardo amarelo
irrompeu hirsuto e firme - o tempo chuvoso
alastra pelas ruelas insinuando-se na alma
uma babugem grossa de maresia - a europa afasta-se
com seus falhanços ao som dos tambores de água

recordas assim a noite varada à porta dos grandes frios
o corpo carbonizado que perdeu a nacionalidade
as cidades sem nome o acidente a auto-estrada
o recado deixado no café a cerveja entornada
o alarme na noite a fuga
a terra dos gelos eternos a viagem sem fim a faca
rente ao pescoço e os comboios e a ponte ligando
a treva à treva
um país a outro país - onde dissemos coisas que matam
e largam rastros de aço nas pálpebras

mas
no cansaço da torna-viagem no desalento de tudo
o mapa da europa ficou aberto no sítio
onde desapareceste

ouço o atlântico uivando de abandono
enquanto os dedos se cansam a pouco e pouco
na lenta escrita de um diário - depois
fecho o mapa e vou
pela crueldade desta década sem paixão.


Al Berto, "Mapa", de Horto de Incêndio.

terça-feira, 16 de junho de 2009

balancing glasses on your nose
by the crystal ball
purified of vulgar things
planted feet along the hall
i'm wearing a second skin
i'm wearing a second skin
balancing on a window sill
back against the wall
purified an old idea
contemplating on the fall
i'm wearing a second skin
i'm wearing a second skin

Hugo Largo. "Second Skin" do álbum Drum

1997 - 2009 hoje

há muitos anos o risco é uma fruta difícil
que congela para o movimento silencioso
das espécies e da brancura das grades em
off distante com vozes pretéritas.

é uma merda que a gritaria dos meninos
sentencie o que um domingo faz dos anos
ou que o mofo na louça diga apenas de uma
recolha que nunca tenha sido provável e
novamente demonstre esse risco jovem
das superfícies justapostas na brava
cor então antiga das frutas que incendeio
com a boca inflamada de sumos.

há muito tempo invalido a altura da praça
através da queda dos buritis para angariar
uma dança simples________permanente
casa ___ templo _uma seqüela________
suave,___________ como hálito de fruta.









*sem imitações llansolianas. a grafia dos espaços
é apenas porque estes templates não aceitam
espaços vazios entre as palavras. fato.

sexta-feira, 5 de junho de 2009


Lutadores

O pão das estrelas me pareceu tenebroso e rijo no céu dos homens mas, em suas mãos estreitas, li a luta dessas estrelas convidando outras: emigrantes da ponte, sonhadoras ainda; recolhi o seu suor dourado, e por mim a terra parou de morrer.


René Char, O nu perdido.

repara
que havia meio dia ainda
para secarem os cabelos
e os pés dançarem uma casa
avessa ao meu modo de dar
aceno.
percebe
um tronco caído sobre a rua
e incerto o silêncio de assim
costurar quem me dobra.

agarra o meu braço à saída e
deposita em mim o que é caro
a toda mentira e vaza
não vaza
nada
a corda imensa a janela
muito fundo.