sábado, 16 de março de 2013

Meditação do dia 12/5/85

Encontrei-me diante desse silêncio inarticulado um pouco
como a madeira alguns em momentos semelhantes
pensaram decifrar o espírito em alguma remanência para
eles isso foi uma consolação ou redobro do horror não para mim.

Havia sangue espesso sob tua pele em tua mão
derramado na ponta dos dedos para mim não era humano.


Essa imagem se apresenta pela milésima vez novamente
com a mesma violência ela não pode não se repetir
indefinidamente uma nova geração de minhas células se
houver tempo encontrará essa duplicação onerosa essas
tiragens fotográficas internas não tenho escolha agora.


Nada no preto me influencia.

Não me exercito a nenhuma comparação não avanço
nenhuma hipótese afundo-me pelas unhas.


Sou em tempos míope não podem dizer-me
olha esse gramado lá dez anos antes vá em sua direção.


O olhar humano tem o poder de dar valor aos seres isso
os torna mais caros.


Jacques Roubaud. Algo: preto.

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