domingo, 17 de maio de 2009

Esqueletos

lago

a nutrição dos peixes explode
descasca ares
adensa o corpo onda os mares
a nutrição dos peixes, molde
duto
os dados sobre os diamantes
a partir de pedaços de vidro
como se nada nada um absoluto
vertical e exposto nada
esclarecesse ao mundo
as informações nutricionais
sobre os peixes galápogos:
efeitos de um hidrogênio
excessivo.

















súmula

focos de neve sobre
a relva favelada do macarrão detrito
com tomates de espuma,
teu corpo, pai
exumado na data dos meus anos
na ocasião do contorno
círculo nocivo
globo notívago
pelo qual adentro
virgem dos peixes
como pupilas que dançam
na água doce da piscina
falseada. cúpula em transe
véspera do abate do sabor
tirano
violento como deus
aos treze anos.














melanografia

era que me dessem espelho,
fulgor da água
cisterna do corpo
ordem descomposta, bruto rompimento
era que eu precisava de que fosse
rápido
como fome
como roldana em atrito da corda com o líquido
e que o movimento estivesse
sólido
acometido pela vigência do nublado
espaço fonte fome eu repito fome
órgão genital entre sebes, frentes de trabalho na
gravura de pele em acrílico profundo.
era que me fosse desenho.
















Transmissão


Álibi que encosta a crosta da língua
no cerne do pavio,
na gordura espessa da várzea,
no efeito cáustico do globo em brasa
brisa noturna de vespertinas covas.

Olhei vestida de soldado
com quepes de molho,
pura sanitária
e com bastões e estandartes de ouro
reconheci no aspecto homogêneo da arnica
a benfeitoria dos apaches, meus irmãos.

Olhei vestida de álibi a crosta do pavio,
como se houvera sido pedra
não fosse o papel incendiário a que sempre sucumbi
o selo legítimo dos lipomas.


30/11/2006










Inscrição

A ponte de néon sobre o rio
alarga a altura das margens
e sobeja a escritura de um poema
ainda límpido no concreto
de barro
que une a cidade
só bolos (e) rios
avançam à direita do passante
embevecido no olhar montanhoso de quem
investe sílaba a sílaba no rim de gás calcário
de maneira que
os pregos os depois e os inquéritos
encontram paz num depósito gorduroso
doutro corpo
igualmente aterrorizado
então basta.















Carta a Alberto, ainda em 97


Não sei mais o que me dizias acerca
da memória das índias e se falavas
Real
do disco repetitivo do nick cave a tocar
a música absurda sobre a existência de anjos
porque eu também ando a gozar dos fármacos
Alberto
e a mim não parece procedente que viva
tão-só de poesia e de diários inscritos sob
o horror que eufemizavas ao dizer apenas
medo.
É claro que acredito nestes anjos ou em
some kind of path que muito pacientemente
elegemos por atalho e por devoção. Alberto
era necessário que viesses por aqui e me ajudasses
a encontrar outros vocativos para além da úmbria
condição adolescente que – disseste –
consistia em elaborar a voz a ponto
de ela não mais enganar a nada e nem a ninguém
porque, eu sei,( deixaste-me claro desde o início)
que estar vivo no epicentro das flores era também
recusar
prestígio emprego bolsas convites
já que falar no teu nome era incerto
sinônimo de
confessar-me também amedrontado
ambíguo belga & português
mas sobretudo doente. Acho sinceramente
que se pudesses me segredar mais da Experiência do
Enforcado ou da tragédia que acometeu Zohía,
poderíamos aproximar os nossos ascendentes
e caminhar em silêncio pela praia, em sines,
ou aqui mesmo no flamengo. Não consegui
gravar-te a fita prometida, e por isto fica o pedido de desculpas,
com a sugestão de que ouças os afghan whigs porque neles
vejo algo television
que seja um pouco do richard hell no greg dulli. por fim
mando não só os meus, mas também abraços e beijos do gustavo
que, sabes, é comigo um outro a falar de ti por estas bandas,
em que o festejo e as cores primárias sangram
as asas destes pequenos demiurgos sem nenhum
glamour ou descendência européia. O poema
que te fiz pus no lixo
junto ao mar ao mito e à minha morte
jacente noutra centrifugação da noite
para acordar fruta horto sorte e
só enfim encenar o último gesto (no coliseu de lisboa)
acompanhado
da horda de mortos que te esperavam
com a garantia & o cumprimento
então de uma overdose de
Beleza.


Barra Mansa, 17 de abril de 2006
(véspera e profecia)












Moonshiner

Dois dos meus filhos estão
suspensos através de
um buquê de escorpiões -
espera na intenção de
drenar a lactose
junto do córtex e da nata
alegórica dos seios.
Aos domingos
dois dos meus filhos
fibrilam um acometimento,
na falta dos desastres.
A cozinha
os pêlos
a casa
toda é tomada por esse ar
de excêntricos odores:
o tom é ameixa,
o cheiro é clinica.



















Dezembro

Devocional a lavagem dos pés
enquanto os ônibus desmontam a chuva
e os afogamentos na praça saens peña
desde sexta-feira, dia em que me deram
de beber o ozônio que caía do teu cabelo
e escorria uma língua transparente até
a saída do metrô inerte da cidade da água
como acidente.
Sequer alguém para ver ou ouvir a química
dos transportes em marcha lenta para
movimento de subúrbio acabando & a minha voz
perder. Molhar desde muito para mais longe contra
a devoção pelo espaço ser um cotovelo se
armando
de as senhoras produzirem náusea nos rapazes
apressados no lastro de perfume curtido.
Frêmito de temporal com vista para a esquerda
na pressa das professoras e motoristas em ordenha,
cinza de adubo para asfalto e todos os 415 fechados
em sua órbita para nunca mais descer a conde de bonfim
e caminhar com livros inúteis, roupa branca suja de lama
ou panetones amassados nas sacolas de plástico que a
intensidade da natureza resolveu dinamitar.













Incisão e álcool para Chan Marshall ou tradução livre para moon pix


Quando as crianças não estavam brincando
e não havia uma luz vermelha na sala de ser
o que imperavam eram os escrúpulos sobre
a mentira. Mas agora eu achei o que as cegava
para acreditar no significado metal
de que o coração é uma cápsula depositária
de bandeiras, acenos e estrelas distantes da
memória. Sim, trata-se de um zoológico triste,
de um aparelho preciso a medir gestos cirúrgicos e
mostras contaminadas de vinho barato e sangue
seco sob as cordas do violão
presente
datado de janeiro de 1988 com a finalidade
paterna e alcoólica de descobrir o significado da incidência
infantil de todos os pesadelos.






















Enorme o projétil que determinou
a permanência na água e o
resguardo no sal para as
olheiras do afogado. Houve luminosidade
houve fadiga e
debaixo do mar eu via o lugar vazio
e irreparável da terra, como quando
nasceu um planeta periférico de ondinas
enxertadas para a inútil crueldade da análise
desde muito, sobre décadas
no rizoma das raízes aquáticas
que transformaram em pedra
o meu leite de veneno.




















De nunca garantir a casa
foi o elo para a assinatura
inexistente nos livros de Ofício.
Também sacolas de supermercado
rasgando na praça em meio a
todos os dias de domingo
com a sorte dos avisos, ultimatos
uma seqüência de respostas erradas
para bemóis muito antigos.
Ou mesmo que o açude em mim vergasse
não cingiria o lenço do noivado não
dançaria no mar o pano dos berços:
chegaria de longe um corpo a fantasma,
bólide entre pirata e o desejado na voz castrada
para garantir em mim pérolas da terra.
Que fosse música de subúrbio.

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